sexta-feira, 11 de agosto de 2017

Skinheads e preconceito

 Fala cambada,
 vai ai um bom texto sobre as origens dos Skinheads!



"1970.
A bandeira de São Jorge estava hasteada e o país navegava de vento em popa em um mar de tranquilidade, com uma economia próspera e emprego pleno criado pela necessidade das perdas da guerra. Muita riqueza girando as engrenagens, mas a mão de obra barata era escassa. A solução parecia tão simples que parecia brinquedo de criança. Conceder direito à cidadania aos habitantes de todas suas ex-colônias, com direito à moradia social. E onde o governo iria colocar esses imigrantes vindos das ìndias, Ocidentais (Caribe) e Orientais? Mas é claro! Nos bairros pobres, à força, junto com uma classe operária branca sem estudo ou preparo para lidar com diferenças étnicas e culturais que emergiram do dia para a noite.
Por um lado foi ótimo. Houve uma troca de culturas riquíssima e apaixonada entre os West Indians e os britânicos. Reggae, Rocksteady, Ska, Bluebeat. Os salões de dança iam colocar pela primeira vez na história da Grã-Bretanha a última geração de uma população majoritariamente branca para dançar música negra com jovens negros. Indústria fonográfica bombando e músicos forrando seus bolsos. O Pyramids teve a ideia genial de mudar seu nome para Symarip e BOOM, lá estavam os skinheads.
Mas de genial, a ideia do governo passou longe. A economia desacelerou, vieram as greves, as jornadas semanais de três dias e a pobreza, tirando a terra da Rainha do seu pedestal. Três milhões desempregados passando fome. Três milhões de imigrantes. O cálculo foi bem fácil para quem estava indignado. Fora dos dancehalls a sociedade ainda era racista. A palavra diversidade estava começando a entrar em seu vocabulário.
A maior parte dos skinheads eram moleques de catorze anos. Tem gente maior de idade que fala bosta pra cacete. Imagine um moleque que estava começando a ter cabelos no peito. Quando abriam a boca, ainda era a voz de seus pais que falava, por mais que suas atitudes fossem rebeldes e seu melhor amigo fosse um menino negro vindo do outro lado do oceano.
Seria uma grande bobagem dizer que esse menino, que estava tendo pela primeira vez na história contato com pessoas de outras etnias, era de fato esse militante anti-racista com que fazem parecer hoje em dia. Ele era menos racista do que seu pai, isso é fato. Mas ainda estava propenso a fazer e falar merda vivendo em uma sociedade que o induzia todos os dias à xenofobia.
A mídia não dava brecha. Muito menos a extrema-direita, que como sempre, estava fazendo sua cama. O British Movement e os velhos cretinos do National Front já estavam de olho na classe operária há muitos anos. Foi nesse momento conturbado a hora ideal pra Mosley resolver dar seu ar da graça com 3.000 militantes no East End. Graciosamente foi recebido por 100.000 trabalhadores. A pontapés. Só que o discurso inflamado de Enoch Powell intitulado Rivers of Blood criou uma histeria branca. Tendo como alvo os asiáticos, Powell pedia sua imediata repatriação.
As gangues skinheads eram muito territoriais e muitas vezes etnicamente mistas. Algumas contavam apenas com meninos brancos. Outras apenas com meninos negros. Só que essa diversidade não incluía muitos imigrantes paquistaneses nesta época. A Glasgow Spy Kids, por exemplo, contava com três imigrantes paquistaneses em suas fileiras nos anos 80.
Uma vez que a diversão de fim de semana era sentar a porrada nos hippies, nos greasers e estudantes, é natural que com toda essa histeria xenofóbica, somada com a demonstração de poder própria dos adolescentes, ou mesmo talvez como forma de gerar coesão criando um inimigo em comum, a violência de jovens brancos e negros se voltaria aos novos imigrantes.
É preciso lembrar que os jamaicanos eram West Indians. Isso é, caribenhos. Anglófonos, falantes da língua inglesa. Eram ocidentais. Se vestiam de forma parecida e tinham costumes semelhantes aos jovens britânicos. Um imigrante asiático adotava uma forma totalmente diferente de se vestir e de falar. Isso tornava-o o bode expiatório perfeito para quem quisesse elegê-lo como tal.
Era o famoso Paki-Bashing, a maior mancha na reputação da cultura skinhead, mas que no entanto era praticada, supõe-se, por uma minoria. Paki é um termo pejorativo do inglês que se refere não só a paquistaneses, mas a imigrantes asiáticos em um geral. Esse comportamento não se limitava às subculturas. As subculturas que expressaram o que já era existente e socialmente aceito. Eram os anos 70.
Se os pais, a mídia e toda sociedade eram extremamente coniventes com esse tipo de comportamento, as únicas pessoas que poderiam ter uma influência significante sobre o comportamento desses jovens eram os artistas jamaicanos.
Em 1970, a banda de Early Reggae Claudette and the Corporation lançou uma música lidando com a situação com o bom e velho sarcasmo britânico, talvez a única forma de entrar nas cabeça de uma molecada que não queria nada com nada. Skinhead a Bash Them. Em tradução livre do patois, Skinheads, batam neles".



fonte: Townhero

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